Depois de traduzir Hélène Dorion
Amar o universo não me traz mágoa.
sobretudo, amar a areia
arrebata-me de júbilo e paixão.
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o sol aqui, depois de uns dias
de jardim obscurecido, a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos
ébrios em redor do pólen.
Fiama Hasse Pais Brandão, Cenas Vivas, Relógio d’ Água, 2000.
De um sonho
Uma casa que sonha com o mar
tem a luz que está a ser sonhada.
Nela, os habitantes vivem e morrem,
ouvindo só o som do mar distante.
Porém um dia, os habitantes saem
para o mar. A casa acorda
e não mais se recorda do seu sonho,
deixando entrar outro sol da realidade.
Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas, Edições Quasi, 2002.